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Caxias do Sul RS Gestão Municipal Certificada
Caxias do Sul RS Gestão Municipal Certificada
Caxias do Sul RS Gestão Municipal Certificada
Caxias do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul. Localiza-se no nordeste do estado a uma altitude de 817 metros sobre o nível do mar, sendo a cidade mais importante da Serra Gaúcha; a segunda cidade gaúcha mais populosa, superada apenas pela capital Porto Alegre; e a 47ª maior cidade brasileira.
Ao longo de sua história, Caxias já foi conhecida como Campo dos Bugres (até 1877), Colônia de Caxias (1877-1884) e Santa Teresa de Caxias (1884-1890).[4] A cidade foi erguida onde o Planalto de Vacaria começa a se fragmentar em vários vales, sulcados por pequenos cursos de água, com o resultado de ter uma topografia bastante acidentada na sua parte sul. A área era habitada por índios caigangues desde tempos imemoriais, mas estes foram desalojados violentamente pelos chamados "bugreiros"[13] abrindo espaço, no fim do século XIX, para que o governo do Império do Brasil decidisse colonizar a região com uma população europeia. Desta forma, milhares de imigrantes, em sua maioria italianos da região do Vêneto, mas com alguns integrantes de outras origens como alemães, franceses, espanhóis e polacos, cruzaram o mar e subiram a Serra Gaúcha, desbravando uma área ainda quase inteiramente virgem.
Depois de um início cheio de dificuldades e privações, os imigrantes conseguiram estabelecer uma próspera cidade, com uma economia baseada inicialmente na exploração de produtos agropecuários, com destaque para a uva e o vinho, cujo sucesso se mede na rápida expansão do comércio e da indústria na primeira metade do século XX. Ao mesmo tempo, as raízes rurais e étnicas da comunidade começaram a perder importância relativa no panorama econômico e cultural, à medida que a urbanização avançava, formava-se uma elite urbana ilustrada e a cidade se abria para uma maior integração com o resto do Brasil. Durante o primeiro governo de Getúlio Vargas houve uma séria crise entre os imigrantes e seus primeiros descendentes e o meio brasileiro, quando o nacionalismo foi enfatizado e as manifestações culturais e políticas de raiz étnica estrangeira foram severamente reprimidas. Depois da Segunda Guerra Mundial a situação foi apaziguada, e brasileiros e estrangeiros passaram a trabalhar concordes para o bem comum.
Desde então, a cidade cresceu aceleradamente, multiplicando sua população, atingindo altos índices de desenvolvimento econômico e humano e tornando sua economia uma das mais dinâmicas do Brasil, presente em muitos mercados internacionais. Também sua cultura se internacionalizou, dispondo de várias instituições de ensino superior e apresentando uma significativa vida artística e cultural em suas mais variadas manifestações, ao mesmo tempo em que passava a experimentar problemas típicos de cidades com alta taxa de crescimento, como a poluição, surgimento de favelas e aumento na criminalidade.
Origens e colonização
Antes da chegada dos imigrantes italianos, no século XIX, a região era habitada por índios caingangues. Daí, vem sua denominação antiga: Campo dos Bugres. Por ali, também passavam tropeiros em seus deslocamentos entre o sul do estado e o centro do país. Na região, os jesuítas tentaram fundar algumas reduções, embora sem sucesso.[14][15]
Na segunda metade do século XIX, em virtude da guerra de unificação italiana, aquele país europeu se encontrava em grave crise social e econômica, e os agricultores empobrecidos já não conseguiam garantir a subsistência. Nesta época, o governo imperial do Brasil decidiu empreender a colonização de áreas desabitadas do sul do país, incentivando a vinda de imigrantes da Itália, após o sucesso da iniciativa semelhante com o elemento germânico.[16] A área escolhida era então conhecida como Fundos de Nova Palmira, região formada por terras devolutas, delimitadas pelos Campos de Cima da Serra, ao norte e pela região dos vales, ao sul, de colonização alemã.[17]
O núcleo urbano primitivo da cidade em torno de 1886
Em 1875, chegaram os primeiros colonos, em sua grande parte oriundos da região do Vêneto, após enfrentarem a árdua travessia do Oceano Atlântico, que durava cerca de um mês, em navios superlotados e onde as mortes por doenças e más condições gerais eram comuns. Inicialmente, os imigrantes aportavam no Rio de Janeiro, onde permaneciam em quarentena na Casa dos Imigrantes.[14][18] Embarcavam em um vapor até o Sul, chegando a Porto Alegre, onde eram encaminhados ao antigo Porto Guimarães, hoje o município de São Sebastião do Caí. Em seguida, subiam a serra, atravessando a região ainda praticamente selvagem, até chegarem ao seu destino: a área onde, hoje, é Nova Milano. Dali, se transferiram, a partir de 1876, para a chamada Sede Dante, local da futura Caxias do Sul, o centro administrativo da colônia, a primeira a ser demarcada na região, onde eram recebidos num barracão de madeira - donde o epíteto Barracão também atribuído à pequena sede colonial. Depois, distribuíram-se nos lotes rurais a eles atribuídos pelo governo. Um ano depois, já se encontravam, no local, cerca de 2 000 colonos.[14][19][20] Em 11 de abril de 1877, a denominação oficial do lugar passou a ser Colônia Caxias, em homenagem ao Duque de Caxias.[14]
Desenvolvimento
Apesar de algum auxílio oficial, as condições iniciais foram muito difíceis. As famílias permaneciam em grande parte isoladas umas das outras pela ausência ou precariedade das estradas.[21] E além de desconhecerem totalmente o ambiente ainda selvagem em que foram lançados, o ferramental de que os colonos dispunham era primitivo e escasso, e as técnicas agrícolas trazidas da Itália não se adaptavam bem ao clima e solo locais. Enquanto a casa não ficava pronta e a agricultura não dava seus frutos, o sustento vinha da coleta, da caça e da venda da madeira derrubada. Somente o empenho de cada núcleo familiar possibilitou a sua sobrevivência nos primeiros tempos, e como ela dependia do número de braços existentes, as famílias tendiam a ser numerosas. Com isso a Colônia Caxias cresceu com rapidez, também pelo contínuo afluxo de novos imigrantes, e logo estruturou sua economia numa base de subsistência. Os produtos principais eram trigo, feijão e milho, seguidos pela batata-inglesa, cevada e centeio. Introduziram-se espécies frutíferas como castanheiras, marmeleiros, macieiras, pereiras, laranjeiras e cerejeiras, e se criavam galinhas, vacas, cabras, porcos, ovelhas e coelhos. Havia adicionalmente alguma produção de mel e de seda.[22]
Uma feira agrária na 3ª Légua, zona rural de Caxias, c. 1918
Apesar deste perfil, logo se verificou algum desenvolvimento comercial e industrial na sede urbana, em essência destinados a processar e fazer circular os excedentes da produção agropecuária, aparecendo algumas casas de secos e molhados, e pequenas fábricas como funilarias, carpintarias, marcenarias, olarias, ourivesarias, ferrarias, moinhos, selarias, sapatarias e alfaiatarias, que conferiam autossuficiência à colônia emergente.[23][24] O resultado dessa atividade pôde ser visto em 1881 na primeira Feira Agroindustrial, origem da moderna Festa da Uva, centralizando as pequenas feiras e festas agrárias e artesanais que se realizavam na zona rural.[25] Em 1883 existiam na colônia 93 estabelecimentos comerciais para uma população de 7.359 habitantes.[24]
Em 12 de abril de 1884 a colônia perdeu sua condição de Colônia da Coroa Imperial para ser anexada ao município de São Sebastião do Caí como seu 5º Distrito, quando já tinha uma população de 10.500 habitantes. Seu nome mudou para Freguesia de Santa Tereza de Caxias, definindo-a como unidade administrativa e como possuidora de uma paróquia própria. Em 30 de outubro de 1886 a Câmara Municipal de São Sebastião do Caí estabeleceu um Código de Posturas para a freguesia de Caxias e nomeou João Muratore como seu primeiro administrador distrital, mas a administração de facto ainda continuava nas mãos dos funcionários imperiais, que viam com desconfiança os italianos como administradores. Somente em 28 de junho de 1890 os italianos conseguiram postos de comando, iniciando uma tradição, que no entanto tardaria para se consolidar. Nessa data o Presidente do Estado, tendo emancipado o distrito no dia 20, elevando-o à condição de município autônomo, nomeou a primeira Junta Governativa de Caxias, composta pelos italianos Angelo Chitolina, Ernesto Marsiaj e Salvador Sartori.[26][27] Em 1895 as linhas do telégrafo já cruzavam a vila, e em 1906 foi inaugurada a primeira rede telefônica.[27]
Inauguração da Viação Férrea em 1 de junho de 1910, data da elevação da Vila de Caxias à condição de cidade
Cena da opereta Don Pasticcio no Cine Theatro Apollo, 1922
No dia 1 de junho de 1910 Caxias recebeu foros de cidade e neste mesmo dia chegava o primeiro trem, ligando a região à capital do Estado. Em 1913 foi instalada a iluminação elétrica.[21] Vários ciclos econômicos marcaram a evolução do Município ao longo deste século. Em suas primeiras décadas o modelo econômico inicial, voltado à subsistência, predominou.[23] O comércio foi favorecido pela ferrovia e pela rede de entrepostos criada pelos alemães, mas logo os italianos puderam criar canais próprios para o escoamento de seus produtos, gerando um capital significativo que possibilitou a industrialização em maior escala. Caxias do Sul veio a ser um grande centro comercial e posteriormente industrial graças à fabricação de vinho, banha e farinha, tendo Porto Alegre como o principal ponto de distribuição. Antônio Pierucinni e Abramo Eberle, comerciantes de vinho e de produtos metalúrgicos, se destacaram como pioneiros na abertura de mercados em São Paulo.[28] A Associação dos Comerciantes, fundada em 1901, teve papel de enorme relevo em toda a região e surgiu como a maior força social depois da Intendência e do Conselho Municipal. Mantinha um controle rígido e eficiente sobre o comércio, tinha grande influência junto ao poder constituído, intervindo beneficamente em crises econômicas e em problemas de infraestrutura local, além de atuar na área de assistência social. A Associação, apesar de algumas crises internas e desavenças com as autoridades, liderava todas as questões que de uma forma ou outra diziam respeito aos interesses das classes produtoras, mesmo quando se tratavam de assuntos exclusivamente agrícolas, já que todas as atividades produtivas nessa fase desembocavam no comércio.[29]
A Catedral sobranceira à Praça Dante Alighieri, no lançamento da pedra fundamental de um monumento ao Duque de Caxias, 1933
Enquanto isso, a cultura local, sem bem que ainda dependendo do modelo de organização familiar tradicional, com suas raízes rurais, e da íntima ligação com a Igreja Católica, iniciava um processo de refinamento e laicização, enquanto que, com o fim da fase de assentamento dos imigrantes, aparecia uma elite urbana que adquiria mais informação, era mais educada e pôde se dedicar mais ao lazer e à cultura em padrões menos folclóricos e mais cosmopolitas, o que beneficiava também a população em geral.[30][31] Surgiram clubes sociais-recreativos que ofereciam programação cultural, como o Clube Juvenil e o Recreio da Juventude, e clubes esportivos amadores, como o Esporte Clube Juventude e o Grêmio Esportivo Flamengo (atual SER Caxias). A educação pública começava a se estruturar e em 1917 foi criada a primeira biblioteca municipal. Os primeiros teatros e salas de cinema, como o Cinema Juvenil, o Cine Theatro Apollo e o Cinema Central, traziam a produção cinematográfica mais atualizada da época, davam espaço para companhias itinerantes de teatro e amadores locais, e até mesmo para grupos operísticos.[32] Merece referência também a criação em 1937 do Centro Cultural Tobias Barreto de Menezes, fundado por Percy Vargas de Abreu e Lima, importante personalidade intelectual da cidade, oferecendo cursos noturnos gratuitos de Humanidades e Ciências abertos a toda a população, desenvolvia uma série de outras atividades culturais, e foi um foco de discussão política em função das ideias socialistas do fundador. A atual Casa da Cultura da cidade leva o seu nome.[33]
Construção da identidade e crise social
Em 1925 foi comemorado o cinquentenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul, num período que se mostrou extremamente propício para se iniciar uma consagração pública dos sucessos já alcançados e consolidados, objetivando primeiramente integrar as elites coloniais no panorama histórico estadual, até então dominado pelas representações pastoris-latifundiárias dos descendentes de portugueses. Nesse contexto, a Festa da Uva passou a constituir o maior evento profano da cidade, associando a glorificação do trabalho dos italianos com as possibilidades do festejo como um importante fórum econômico.[34] Como disse Cleodes Ribeiro,
Pavilhões da Festa da Uva em 1932
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- "Se a liturgia do ritual da Festa da Uva serviu para proclamar a identidade dos celebrantes, exibir o resultado do trabalho desenvolvido ao longo de mais de meio século e reivindicar o estatuto de brasileiros, suas características definidoras foram explicitadas pelo vocabulário simbólico empregado no ritual. Os discursos, a exposição e as distribuições de uvas, o cortejo triunfal, as tendeiras em seus trajes típicos, as canções, os banquetes, o congresso e as bandeiras enfeitando as ruas, tudo isso refletiu o esforço dos ofertantes da festa no processo de autorrepresentação".[35]
Ao mesmo tempo, na Itália fascista, surgia o interesse de se reconstituir a história dos emigrados interpretando-a como poderosa contribuição civilizatória da raça latina ao Novo Mundo, e instando os italianos daqui para que defendessem e se orgulhassem de sua origem étnica.[36][37] Benito Mussolini, no prólogo do álbum comemorativo Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nello Stato del Rio Grande del Sud, declarava: "No nobre orgulho que eleva as vossas almas, enquanto parais para contemplar o resultado da longa e tenaz fatiga, eu vislumbro o signo da nobilíssima estirpe que imprimiu um traço imorredouro na história dos Povos".[37]
Tal posicionamento ufanista e racista, que não estava isento de manipulação estrangeira, foi entretanto suprimido pelo governo de Getúlio Vargas, que adotou uma linha de desenvolvimento nacionalista, passando a minimizar a autonomia estadual e as singularidades regionais, os chamados "quistos sociais" que haviam se formado "imprudentemente" em várias regiões do Brasil inclusive no sul. Nesse momento a auto-imagem excessivamente otimista e confiante construída pelos italianos começou a ser posta abaixo, e em vez de colaboradores no processo de crescimento e povoação brasileiros os imigrantes passaram a ser vistos como potenciais inimigos da pátria. O processo chegou a uma culminação com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial ao lado dos Aliados contra os países do Eixo, ocasionando uma ruptura profunda dos laços entre Itália e Brasil, com pesadas consequências para a região de imigração.[37][38] Entre 1941 e 1944 houve manifestações populares anti-italianas organizadas pela Liga da Defesa Nacional, que buscaram suprimir os signos identificadores da etnia estrangeira, criando-se uma atmosfera de terror em vários atos públicos de agressão. Ao mesmo tempo, os italianos e seus descendentes foram proibidos de falar o seu dialeto, formando-se à sua volta um muro de silêncio, já que muitos ainda mal sabiam se expressar em português. Seu deslocamento passou a depender da concessão de salvo-condutos, prejudicando gravemente sua interação em todos os níveis com os brasileiros. Tamanha repressão originou um esforço de auto-censura por parte dos próprios italianos e seus descendentes, desestimulando o cultivo da memória até no recesso do lar e interrompendo a partir de 1938 a celebração da Festa da Uva. O mesmo tratamento sofreram aqueles que, em menor número, tinham outras origens étnicas estrangeiras.[39]
Reconciliação e retomada do crescimento
Instalações da Metalúrgica Abramo Eberle nos anos 1950
Caxias do Sul, anos 1970. Arquivo Nacional.
Na retomada da Festa da Uva, em 1950, coincidindo com a comemoração dos 75 anos da imigração, num espírito de reconciliação, os imigrantes passavam a ser chamados de pioneiros, indicando uma reorientação na identidade a ser construída, com implicações progressistas que se abriam para os não-italianos, já considerados como parceiros em todo o processo civilizador.[40] Outro evento de grande significado simbólico foi a construção do Monumento ao Imigrante, inaugurado em 1954 e mais tarde transformado em monumento nacional.[37][41]
O desenvolvimento econômico da cidade ao longo do século XX obedeceu a um padrão semelhante ao brasileiro, utilizando técnicas e maquinário desenvolvidos nos países industrializados e adaptando-os às condições locais. Na segunda metade do século as principais empresas já tinham filiais em Porto Alegre e a cidade já havia desenvolvido um comércio expressivo de produtos suínos, laticínios, farinha, madeira e no setor vinícola. As indústrias metalúrgicas também estavam em crescimento, aproveitando inicialmente o trabalho artesanal de ferreiros, serralheiros e funileiros, mas em torno da década de 1950 adquiriram o perfil de indústrias modernas, principalmente com capital derivado da poupança e da expansão dos próprios estabelecimentos. Um diferencial na evolução econômica caxiense foi a formação de profundos vínculos de confiança mútua na comunidade, o chamado capital social, possibilitando a organização da economia sobre bases mais fortes, a aceleração do ciclo econômico e a obtenção de resultados mais significativos.[42] A rápida diversificação da economia se deveu também à progressiva urbanização e à falência do sistema colonial do minifúndio familiar. A sucessiva fragmentação das propriedades rurais entre os múltiplos herdeiros as tornou incapazes de prover o sustento das famílias, geralmente grandes, ocasionando o êxodo rural e transformando boa parte dos antigos agricultores em operários da indústria e comércio.[43]
Assim como a primeira metade do século XX representou uma abertura e maior integração da cidade ao contexto estadual e nacional, a segunda metade figura como uma fase de abertura para o mundo, com a mudança em seu perfil produtivo, político e cultural, o início de sua penetração no mercado estrangeiro e a consolidação de sua posição como uma das maiores economias do Brasil. A cidade cresceu aceleradamente nesse intervalo, passando de uma população de 54 mil em 1950 para 180 mil em 1975 e cerca de 360 mil pessoas em 2000, trazendo consigo paralelamente todos os problemas sociais, culturais, econômicos e ambientais típicos das cidades brasileiras com grande taxa de expansão.[44][45] O dinamismo industrial da cidade se intensificou a partir da década de 1970, alicerçado na diversidade de empreendimentos que vão desde material de transporte, o mais significativo, ao mobiliário, aos produtos alimentares, à metalúrgica, ao vestuário, calçados e itens de tecido, tornando-a a segunda área em importância econômica no estado, atraindo populações de outras regiões do Rio Grande do Sul e mesmo de outros estados.[45] Em anos recentes a economia local evidencia uma drástica mudança de ênfase, assumindo grande importância o setor terciário[46] e crescendo a informatização e automatização nas empresas, a infraestrutura, a preocupação com o meio ambiente e abrindo-se novos empregos e novos mercados em várias frentes internacionais.[47]
Em 1994 foi criada a Aglomeração Urbana do Nordeste do Rio Grande do Sul, a segunda maior aglomeração urbana do Rio Grande do Sul, destacando-se pela concentração populacional e pelo dinamismo de sua estrutura econômica.[48] Da fragmentação da antiga Colônia Caxias nasceram os atuais municípios Flores da Cunha, Farroupilha e São Marcos. O município é também conhecido pelo nome de Pérola das Colônias.[14]
Em 2017 a língua talian foi oficializada no município de Caxias do Sul, a partir do decreto do presidente da Câmara de Municipal de Vereadores, Felipe Gremelmaier (PMDB).[49][50] No dia 10 de outubro de 2019 foi aprovado o projeto de lei que reconhece o Talian como patrimônio imaterial do município.[51][52]
Geografia
Caxias do Sul é um município do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.[53] Está localizada a uma longitude de 51º10'06'' oeste e a uma latitude de 29º10'05'' sul.[54] Pertence à Mesorregião do Nordeste Rio-Grandense e à Microrregião de Caxias do Sul.[55] Segundo a Fundação de Economia e Estatística tem uma área de 1 643,9 km²,[56] 1 638,34 km² de acordo com dados da Prefeitura Municipal,[57] ou 1 644 km², segundo o IBGE.[58] Está a 127 km da capital do estado, Porto Alegre, e 1 900 km de Brasília, capital federal. Faz divisa com os municípios de São Marcos, Campestre da Serra e Monte Alegre dos Campos ao norte, Vale Real, Nova Petrópolis, Gramado e Canela ao sul, São Francisco de Paula a leste e Flores da Cunha e Farroupilha a oeste.[54]
Relevo e hidrografia
Cascata Véu da Noiva, do arroio Pinhal, em Galópolis
Localizada na região fisiográfica do Rio Grande do Sul denominada Encosta Superior do Nordeste, parte da Serra do Mar, o núcleo urbano original da cidade foi erguido sobre uma extensão em forma de península do Planalto de Vacaria, um antigo derrame basáltico sobre uma base granítica, cuja topografia é um declive contínuo, mas suave, desde a fronteira do estado de Santa Catarina, com uma inclinação média de cerca de 2 m/km. Caxias do Sul situa-se na Bacia do rio Taquari-Antas e na Bacia do rio Caí, num divisor de águas entre 740 e 820 m de altitude, onde o planalto vacariense começa a se acidentar e fragmentar em diversos vales dissecados por pequenos rios e córregos que se dirigem para o sul e oeste, tributários do rio Taquari, os que se dirigem para sul e sudeste, tributários do rio Caí, e os que drenam para o norte, tributários dos rios das Antas, Pelotas e São Marcos. Os principais leitos fluviais da cidade são o arroio Maestra (direção norte-nordeste), o arroio Biondo (nordeste), o arroio Caravaggio (sudoeste) e o arroio Pinhal (sul). Essa rede de vales possui extensos terrenos interválicos que variam de 50 a 60 km em largura. Ao sul, todavia, sucedem-se vales pequenos e relativamente ramificados, com intervalos reduzidos que variam de 4 a 5 km de largura. Os espaços interfluviais destes vales meridionais se acham, em geral, aproximadamente na mesma altura do planalto de Caxias, variando entre 670 e 790 m de altura, enquanto que o fundo das gargantas, onde afloram arenitos vermelhos, está geralmente a menos de 200 m de altitude.[59] Os maiores espelhos d'água da cidade são artificiais, barragens construídas para abastecimento da população, entre elas a Represa Maestra (5 400 000 m³), a Represa Dal Bó (1 770 000 m³) e a Represa do Faxinal (32 000 000 m³).[60]
Meio ambiente
Entrada do Parque Municipal Mato Sartori
Mata de araucária no interior de Caxias do Sul
O município de Caxias do Sul está situado dentro do bioma da Mata Atlântica, com vegetação predominante de floresta ombrófila mista, conhecida como mata de araucária. A leste, norte e nordeste a floresta se intercala com áreas da vegetação rasteira dos Campos de Cima da Serra, que ocorrem em solos de pouca profundidade. A paisagem encontra-se bastante alterada devido ao manejo agrícola e industrial e à expansão da área urbana, havendo grande redução da presença da araucária.[61] Quanto menos acidentado o relevo, mais extensas são as manchas de campos e, ao contrário, quanto mais dinâmicas são as formas do relevo, mais densas e contínuas são as matas de araucária, sobretudo nas cabeceiras dos principais vales. As áreas mais baixas dos vales são revestidas por uma floresta transicional de matas de encostas, com maior diversidade botânica, que é definida como Mata da Figueira. Os solos, criados sobre a capa basáltica, são em geral muito férteis.[62]
A cidade conta com um posto do IBAMA,[63] a Prefeitura Municipal implementa e fiscaliza a extensa legislação ambiental criada pela Câmara[64] e mantém uma Secretaria do Meio Ambiente, responsável por ações de preservação e manejo dos recursos naturais. Dentre suas atividades se contam programas de educação ambiental, como o Plante uma Árvore, o Repovoamento da Araucária, as Conferências do Meio Ambiente, o Calendário Ecológico, a Olimpíada Ambiental, a Semana do Meio Ambiente e outras.[65] A cidade tem média de 17,32 m² de área verde para cada habitante, contando com 46 praças e vários outros espaços verdes e áreas de preservação ambiental,[66] como o pequeno Mato Sartori, junto ao centro,[67] os 186 mil hectares no entorno da Bacia de Captação de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza, a maior área de preservação ambiental para extração de água da Mata Atlântica,[68] e o Aterro Sanitário do Rincão das Flores, que tem a maior parte de sua área de 275,8 ha destinada à preservação.[69] Vários parques possuem áreas de flora nativa e áreas urbanizadas com equipamentos de esporte e lazer, entre eles o Parque dos Macaquinhos, o Parque Cinquentenário e o Parque Dr. Celeste Gobatto.[70] Também existe um Jardim Botânico de 50 ha, preservando a flora local ao mesmo tempo em que propicia, através de coleta e reprodução, a recuperação das áreas degradadas.[71]
Problemas ambientais
Descaracterização de prédios históricos do centro da cidade pela densa poluição visual
Ver artigo principal: Ambientalismo no Rio Grande do Sul
Um dos problemas ambientais da cidade é a poluição. As águas dos afluentes do rio Taquari são contaminadas com agrotóxicos, esgotos domésticos e efluentes industriais, e os esgotos da cidade são os maiores responsáveis pela poluição da bacia do rio Caí.[72] A Prefeitura, contudo, tem feito grandes investimentos em programas para despoluição hídrica.[73] A poluição sonora já apresenta ocorrências preocupantes mas está sendo submetida a legislação especial.[74]
A poluição visual no centro é intensa, e aflige inclusive prédios históricos tombados, descaracterizando-os.[75][76] Para atenuar esse problema foram criadas, através da Lei Complementar nº 412, de 12 de junho de 2012, uma série de regras para a comunicação visual na cidade. Entre outras medidas, a lei determina um limite máximo para o tamanho das placas, letreiros ou banners utilizados nas fachadas das empresas.[77] Com a medida, muitas fachadas históricas foram novamente reveladas sob a propaganda removida.[78]
Os índices de poluição atmosférica são atualmente (janeiro de 2020) desconhecidos, pela inativação desde 2006 do equipamento de medição.[79]
Apesar da proteção legal à Mata Atlântica, o desmatamento e as queimadas continuam ocorrendo na região de Caxias do Sul, muitas vezes de forma dissimulada, em encostas e terrenos de difícil acesso, plantando-se em substituição espécies exóticas como o Pinus e a acácia para atender aos mercados de madeira e papel e deixando-se em torno um cinturão de vegetação nativa como camuflagem, ou abrindo espaço para a criação de lavouras. Outra causa de desmatamento é a desvalorização comercial da terra quando ela possui grande cobertura de mata protegida, o que em tese impede a sua exploração mais intensiva. A fiscalização existe, feita por terra e ar pela Patrulha Ambiental de Caxias do Sul (Patram), ligada à Brigada Militar, mas os 18 soldados são insuficientes para cobrir a grande área sob sua jurisdição, que inclui 13 cidades.[80]
Também têm sido verificados nos últimos anos vários deslizamentos de terra e alagamentos causados, respectivamente, pela ocupação inadequada de encostas com cobertura frágil de solo, e pela impermeabilização do terreno e urbanização mal planejada em áreas naturalmente propensas a enxurradas. Às vezes representando ameaças graves à vida da população, esses desastres em geral afetam as classes mais pobres, impelidas a se fixarem em zonas impróprias à urbanização.[81]
Clima
O clima de Caxias do Sul é oceânico (Cfb), com verões relativamente quentes, invernos relativamente frios e geadas esporádicas, mais frequentes nas áreas de maior altitude e menor urbanização, situadas no extremo leste da cidade. Pode nevar nos meses mais frios, mas esse é um fenômeno bem mais raro e que, quando ocorre, é geralmente com pouca intensidade. Porém, já foram registradas precipitações de neve relativamente abundantes, com acumulações consideráveis - a última entre os dias 26 e 27 de agosto de 2013,[83] quando a temperatura chegou a 0,2 °C.[84]
A temperatura média compensada anual do município é de 17 °C, havendo grande amplitude térmica anual.[85] Quanto às precipitações, o índice pluviométrico é de 1 800 milímetros (mm), sendo regularmente distribuídas durante o ano, não havendo assim uma estação seca. Precipitações acumuladas já chegaram à marca de 105 mm em doze horas.[86] Ocasionalmente ocorrem episódios de forte ventania, com rajadas superiores a 100 km/h,[87][88] e em 2009 foi registrada a passagem de um tornado.[89]
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes ao período de 1961 a 1984 e a partir de 1988, a menor temperatura registrada em Caxias do Sul foi de −3 °C nos dias 6 de junho de 2012 e 14 de julho de 2000,[84] e a maior atingiu 35,4 ºC em 7 de fevereiro de 2014.[90] Em 17 de julho de 1975 a temperatura não passou de 2,3 °C, sendo esta a menor máxima registrada.[90] Em 11 de julho de 1918, a cidade registrou uma temperatura mínima de −6,9 °C.[91]
O maior acumulado de precipitação em 24 horas chegou a 136,7 mm em 20 de fevereiro de 2003. Outros grandes acumulados iguais ou superiores a 100 mm foram 128,1 mm em 11 de novembro de 2013, 116,2 mm em 16 de janeiro de 1996, 114,2 mm em 28 de dezembro de 2012, 113,8 mm em 16 de julho de 2006, 112,7 mm em 12 de setembro de 1988, 109,4 mm em 21 de julho de 2011, 105,4 mm em 12 de outubro de 2000 e 102,8 mm em 10 de julho de 2007.[82] Com 434,9 mm, setembro de 1967 foi o mês de maior precipitação.[92]